27 de nov. de 2011

Batuque na Raiz: Conhecendo o Maracatu

por Marcelo Lesado (Unidus da Dorotéia - Farma USP RP) e Damaris (UFSCAR Sorocaba)


É com muito prazer que escrevo no Blog da Bateria S/A pela primeira vez, antes de mais nada vou me apresentando. Meu nome é Marcelo (Lesado), fui integrante da Unidus da Dorotéia, bateria do curso de Farmacia da USP Ribeirão.

Porém, antes de começar a conhecer do que se tratava uma bateria universitária que é calçada no samba, participei por algum tempo de um grupo de Maracatu em Sorocaba, chamado Matintaperera. Foi ali que me apaixonei pelo batuque !



Eu gostaria também de frisar que NÃO SOU ESPECIALISTA NO ASSUNTO, tenho um conhecimento superficial que gostaria de compartilhar com vocês que gostam de uma batida diferente!

Vamos começar pelo essencial: o que é esse tal de Maracatu, é de comer? A resposta é NÃO! O Maracatu é um movimento cultural que, através do uso de um batuque completamente fora do senso comum de danças tradicionais e um canto característico, acolhe o ritmista, o dançarino e companhia toda que estiver ouvindo numa sensação envolvente e marcante. Tem suas raízes na África e começou se desenvolver no Brasil no estado do Pernambuco, mais especificamente em sua capital, Recife, tendo como grupos representantes mais tradicionais (conhecidos por mim, em toda a minha ignorância) a Nação Estrela Brilhante do Recife e a Nação Leão Coroado.  Inclusive esta ultima é a mais antiga nação que ainda existe, datada de 1863. Existe mais de um tipo de maracatu, mas o que vou dar atenção especial é o Maracatu de Baque Virado.  Existe ainda o Maracatu de baque solto, também chamado de maracatu Rural.

O maracatu, apesar de ser um batuque diferente do samba, utiliza alguns instrumentos que também fazemos uso.  São eles a caixa e o ganzá (ou chocalho de arroz, ou mineiro, se preferir), e dependendo do grupo/nação e da musica, também se usa o atabaque. Vale ressaltar que a caixa é o instrumento que faz a chamada do para começar o baque (toque), cumprindo nesse aspecto a função do repinique.  Bom saber também que esse naipe no Maracatu preza por um padrão de toque dentro do qual os brincadores (ritmistas) improvisam muito e descaradamente, diferente do samba.

Entre os instrumentos diferentes, estão o Xequerê (ou Abê) espécie de chocalho feito com cabaças que crescem no campo, o Gonguê que tem um som parecido com um de sino de vaca – serve para marcar o tempo do ritmo, sem ele o batuque se perde - e por ultimo mas não menos importante, a Alfaia.

A Alfaia é talvez o instrumento mais característico do maracatu.  É o tambor que dá toda a cadência do som.  Muitas pessoas atribuem a função da alfaia ao Surdo do samba, pelo som ser grave. Diferenças devem ser observadas quando essa comparação é feita; a alfaia é sempre de madeira, é mais leve que o surdo, quando feita de compensado, mas ela também pode ser feita com o tronco da arvore de macaíba, aí o bixo pega, o som fico mais robusto e a alfaia mto mais pesada.  Além disso é tocada com 2 baquetas de madeira sem proteção de espuma na ponta, e tem menor intensidade no som do que o surdo. 

Uma questão interessante, que merece um destaque rápido, é que o Maracatu nunca é utilizado para fins de torcida, como a bateria de samba é em jogos por exemplo. Isso por uma razão bem enfática: a Alfaia tem um significado religioso, sendo considerado tambor sagrado, muitas vezes usado em terreiro de candomblé. Todavia, o Maracatu em Recife tem seu próprio carnaval, onde as nações desfilam, inclusive existindo primeira e segunda divisões.

Como falei, a minha primeira experiência com qualquer tipo de batida em grupo, vulgo bateria, foi com o Maracatu. Quando comecei, o grupo existia a apenas 1 ano, e sabíamos tocar uns 2 ou 3 baques diferentes (chamamos as musicas de baques).  Era um grupo humilde que demorou para tomar forma e ganhar um nome, Matinteperera. Demorei muito para me acostumar com a batida diferente.  Logo no começo gostei muito da alfaia, como todo mundo, mas a caixa sobrou e eu fui um dos únicos que conseguiu dominar o naipe. Em 2009, com a entrada dos bixos, vieram 2 pessoas que manjavam muito de maracatu, e o grupo mudou completamente. Hoje em dia o som esta muito mais gostoso de ouvir e eu sinto orgulho de dizer que estava no começo, e que vi crescer lentamente esse grupo.

Mas, para conhecer melhor o Maracatu eu preciso ir até Recife? Claro que não, existem muitos grupos espalhados pelo Brasil!! Um deles é o Bloco de Pedra, que faz um trabalho muito bonito na cidade de São Paulo/SP.  Trata-se de um grupo aberto, onde todos são bem vindos para aprender a brincar (tocar na gíria do maraca) ou para prestigiar o som. Eles tem um projeto chamado Calo na Mão, que inclui oficinas de montagem de instrumentos e para o aprendizado dos mesmos. Se for só pra assistir, o ensaio geral começa as 15 e vai até as 17 horas (não passa disso por causa de um acordo com a associação de moradores do bairro) sempre aos sábados, mas as atividades começam cedo, por volta das 10 horas. Pra quem quiser mais informações sobre o maracatu e o Bloco de Pedra o site dos caras é: www.blocodepedra.maracatu.org.br

Endereço:  R. Alves Guimarães 1511 – Pinheiros
São Paulo/SP

Segue uma sugestão de vídeo para conhecer melhor o Maracatu de baque virado, prestar atenção na “viração” das Alfaias menores, a partir dos  40 segundos de vídeo, enquanto as maiores mantem a base, as menores cortam o som, fica animal! Percebam a dança das meninas do Abê e toda a vestimenta, é uma cultura muito rica




Esse mostra um pouco do canto




Imagens:

Gonguê


Xequere (Abê)



Alfaia


Ganza