O Blog Bateria S/A teve a oportunidade de conversar com Mestre Gilmar do Império Serrano. A entrevista foi feita antes do desfile de 2012, no qual a bateria levou mais uma vez a pontuação máxima.
Início no samba
Vem de família, fui criado em Cascadura. Todo domingo tinha pagode na casa da minha avó e aos 11 anos eu fui, a convite do meu tio, num ensaio da Mangueira e me apaixonei. Comecei a desfilar na Mangueira do Amanhã. Aos 12, minha irmã começou a namorar um ritmista do Império Serrano e começamos a ter mais contato. Ele ficou sabendo que eu tocava na Mangueira e acabou me convidando para um ensaio de rua do Império. Achei muito interessante aquele toque de agogô característico da escola, fiz um teste para entrar na bateria e acabei entrando. Aos 20 anos, o namorado da minha irmã, Átila, foi convidado a ser mestre do Império Serrano e acabou me convidando para ser diretor auxiliar dele. Acabei indo para a Acadêmicos do Cubango como mestre, mas continuei no Império. Fomos muito bem, recebemos nota máxima, e o presidente da escola me pediu que eu fosse apenas à Cubango em 2009 e eu aceitei. Acabei trabalhando apenas por 2 meses porque o Átila foi para a Vila Isabel. O presidente do Império me convidou para assumir o comando da bateria e eu aceitei.
Aprendizado com Átila
A doutrina dos ritmistas. Na bateria do Império não tem marginal, chegamos nos lugares, respeitamos e somos respeitados. Além disso, a humildade é sempre importante: eu preciso dos meus ritmistas, e não o contrário.
Bossas complexas
É uma característica da bateria do Império. Não tem como a gente não fazer esse tipo de bossa, as pessoas esperam muito. Não acho necessário, mas os jurados querem assim. Nós trabalhamos muito, eu gosto de mostrar um grau de dificuldade e criatividade nas bossas.
Andamento
A bateria do Império tem um andamento próprio. Os compositores sempre são felizes porque levam em consideração o andamento natural. Nossa bateria tem naipes bem definidos neste andamento, não tem necessidade de mudar.
Surdo de terceira
Eu tenho muito carinho pelo instrumento, toquei por 12 anos. O pessoal às vezes reclama que eu dou ênfase ao surdo de terceira, mas não tem jeito. Eu venho com 18 terceiras, 8 fazem o desenho reto para dar o balanço com as caixas e 10 fazem desenhos em cima do samba-enredo. Sempre mudamos o desenho, sempre de acordo com a melodia, com um sistema de pergunta resposta agogô-terceira. Os desenhos são complexos, fruto de muito ensaio. Fico muito feliz que tenhamos reconhecimento por parte de músicos como Ivo Meirelles e Dudu Nobre.
Influências
Walcir Explosão, falecido mestre da Mangueira, era o cara. Além disso, os amigos Nilo (Portela), o falecido Marcone (Imperatriz), Chuvisco (Estácio), todos muito bem e se respeitando muito. No geral, todas as escolas estão com baterias bem preparadas. Outro mestre que eu gosto muito, pela pessoa e pela competência, é o Celinho, ex-Tijuca e atual Tuiuti. A humildade dele e a cadência que ele dá nas suas baterias são inconfundíveis. De baterias, gosto da Mangueira, da Tijuca e suas caixas. Imperatriz evoluiu, Portela também. Sou suspeito pra falar porque todos são meus amigos, acho que todo mundo está trabalhando muito no especial.
Quem deseja ser mestre um dia
Muito respeito pelo seu diretor. Todo mundo tem sua hora. Caminhar fazendo sempre o melhor pra sua bateria, entendendo que você é parte de um conjunto de 250, 300 ritmistas. E jamais passar por cima de ninguém. Seu reconhecimento uma hora vai chegar se você trabalhar.
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