19 de fev. de 2012

Comentários sobre as Baterias do Carnaval Paulista 2012

por Carlitos

Gostaria de destacar alguns pontos que percebi nesses dois dias de desfiles, tanto em casa quanto na avenida, em relação às baterias e o que as envolve. Um deles é que esse ano, um dos jurados de bateria ficou ao lado do recuo, o que parece ter incomodado algumas baterias quando entravam neste. Outro ponto, negativo por sinal e que não é novidade, é que muitas fantasias das baterias tinham grandes costeiros, que geralmente machucam e incomodam, e chapéus cheios de penas, que atrapalham muito a comunicação entre diretores e ritmistas. Não sei por que isso acontece, mas é recorrente que as fantasias das baterias sejam incômodas e com esses chapéus. Talvez fosse de bom senso os carnavalescos pensarem nisso, ou haver um maior diálogo entre os responsáveis pela bateria com os carnavalescos para que a bateria venha com uma fantasia confortável, permitindo assim que os ritmistas exerçam bem seu papel na avenida.



Falando de batucada, gostaria de começar destacando que percebi uma maior ousadia das baterias no geral. Muitas estão fugindo de alguns padrões do samba, como a tradicional e popular virada de 2. Muitas baterias estão refazendo essa virada, com arranjos bem feitos e bem executados. Ousadia que também pode ser vista em retomadas vindas do silêncio, seja esse silêncio longo, durando vários compassos, ou aquelas que dispensam a chamada do repenique. Retomadas do silêncio são arriscadas, mas quando bem executadas, fazem o público delirar. Inovações também são bem vindas, com movimentos e apresentações inesperadas das baterias. Sabemos que, na teoria, não faz diferença na hora da nota trazer alguma alegoria no meio da bateria ou fazer algum movimento incomum, mas faz muita diferença para o público e o espetáculo agradece.

Focando nas baterias em cada dia, começo falando da sexta-feira destacando a Camisa Verde e Branco e Império de Casa Verde, que vieram com a parte de sustentação (caixas, repeniques e marcações) muito firme e audível, já característico dessas baterias. Vale ressaltar o novo instrumento utilizado na Império, que eu não sei o nome (leitores, se puderem me ajudar eu agradeço), que se assemelhava a um reco-reco. O som estava bem audível e complementou bem os agudos. 

A Vai-vai trouxe sua cadência mais acelerada, a qual manteve o tempo todo na minha visão, e com uma bossa simples, mas bem executada. Uma bateria muito eficiente e que sempre cumpre muito bem seu papel na avenida. 

A Rosas de Ouro veio com bossas muito boas e ousadas e o mestre Tornado não economizou e as executou várias vezes, para delírio da arquibancada. As executou inclusive no recuo, em frente ao temido jurado que estava logo acima. E a entrada no recuo foi muito bonita, com a inversão de posições da frente e fundo. 

A Acadêmicos do Tucuruvi veio bem também, e o mestre Adamastor manteve o bom trabalho feito ano passado, mesmo com algumas alterações na sua direção e mostrou confiança na sua bateria, executando por várias vezes suas bossas, tanto na avenida quanto no recuo. 

A Mancha Verde trouxe sua cadência mais lenta, da qual eu gosto bastante, e a bateria veio muito bem, mas eu ouvi apenas uma bossa de onde estava, queria ter ouvido mais, pois a Mancha tem uma bateria muito criativa. 

A X-9 infelizmente eu não ouvi, pois estava sofrendo com o mau atendimento dos serviços no sambódromo, uma pena e peço desculpas por não poder comentar sobre esta bateria, que trouxe um instrumento novo para a avenida, o ripaton, uma espécie de tambor de madeira.

Como eu havia mencionado, assisti os desfiles de sábado pela TV [clique aqui para ler o post], e portanto fica difícil comentar bem sobre as baterias.  Então prefiro destacar algumas partes da transmissão em alguns casos também. 

A Dragões da Real estreou no grupo especial com firmeza e confiança, vieram leves e parece que não sentiram o peso de estarem na elite do carnaval. 

A Pérola Negra estava muito bem, com o mestre Bola passando mais segurança que ano passado, quando estreou à frente da bateria. Fizeram uma bossa com um grande silêncio que foi bem executada e mostrou a escola cantando o samba muito forte. Destaque também para o barco que passou no meio do mar de ritmistas, ficou muito bonito. 

A bateria da Mocidade Alegre foi muito mal transmitida pela TV. Não foi mostrado o famoso movimento do cubo, sempre feito pela escola e que causa furor na platéia sempre que executado, e foi exibida apenas uma vez a coreografia de uma bossa com silêncio, bossa essa que foi executada várias vezes. Pelo menos quando o silêncio aparecia, os comentaristas faziam o mesmo e foi possível curtir esse belo momento. A surpresa da bateria esse ano ficou com a belíssima exibição da nova Rainha, Aline Oliveira, que foi elevada num palco e tocou surdo de terceira com muito carisma e técnica. 

A Águia de Ouro fazia uma pausa um compasso após o fim do refrão do meio que teve um efeito muito bom, e veio com uma boa cadência. Mas eu chuto que aqueles óculos devem ter incomodado um pouco os ritmistas. 

A Vila Maria trouxe uma progressão, feita um pouco depois do refrão principal, que era bem interessante, diferente dos padrões naquele momento do samba. 

A Gaviões da Fiel veio com uma bateria muito firme, bem sustentada, com boas bossas, e a troca de fantasia foi uma sacada muito boa do carnavalesco, vai ser uma das imagens do carnaval desse ano sem dúvida. 

A Tom Maior encerrou muito bem o carnaval e justiça seja feita, a bateria foi mostrada várias vezes, de dentro e de fora e tocou muito bem. Como nem tudo podia ser perfeito na transmissão, a bateria tinha apenas uma bossa, e com coreografia, a executou algumas vezes, mas a TV não mostrou nenhuma delas. 

As baterias estão numa crescente no que diz respeito a ritmo, técnica e inovação, mas creio que precisamos ter mais mudanças na estrutura, que já passou por diversas transformações e remodelagens de paradigma em sua história, seja na forma de fazer bossas ou de tocar os instrumentos, entre outras coisas. Faria bem para o samba se houvesse um choque na estrutura já consolidada hoje. Esta é a opinião de um humilde ritmista, amante do samba, leitor assíduo deste blog que, com certeza, está escrevendo seu nome na história do carnaval brasileiro, com seu acervo de gravações e conteúdo voltado principalmente para baterias. Obrigado pela oportunidade de contribuir. Comentários, críticas, sugestões e correções serão muito bem-vindas.

Um abraço.