31 de ago. de 2011

Entrevista com Mestre Caju

por Du Japonês

[Interview with Mestre Caju from Mancha Verde, in Portuguese]


Retrospecto

Comecei a me envolver com bateria em 1990, na Mocidade Unida da Mooca, lá no meu bairro. Depois fui pro Mocidade Alegre, mas só desfilei em 93 ou 94. Comecei tocando tantã, porque era comum ter ala do instrumento. Aí depois fui pro surdo, e permaneci no instrumento até 2004 no Mocidade, e saí porque eu assumi a bateria da Mancha e estou lá até hoje. Fora nesse meio tempo eu desfilei na Águia de Ouro, em blocos do Pholia da Faria, participei de baterias universitárias e desfilo desde 1995 na bateria da União da Ilha.


Bateria da Mancha

Fundamos o bloco para desfilar em 1996 e eu toquei até 1999. Tínhamos um grupo de 10, 15 pessoas que falavam que era da bateria da Mancha , porque a gente dependia muito da bateria do Águia de Ouro. Em 2000 a gente virou escola com o Colorado como mestre e eu como diretor. Em 2001 o Sombra assumiu e acabamos por ter a base da bateria do Mocidade. Daí em 2004 eu assumi a direção e formamos alguns ritmos. Em 2005 e 2006 o Cachorrão assumiu e trouxe alguns rimistas do Camisa e em 2007 eu voltei com ao comando juntamente com o Moleza. Nós fechamos que tínhamos que fechar só com gente nossa, então começamos a fazer um trabalho focado na escolinha. Hoje em dia nós temos uma bateria 99% nossa, e esse 1% desfila conosco a nosso convite, como diretores de bateria do RJ, pessoas que tem respeito pelo nosso pavilhão, mas realmente no momento atual só dependemos dos ritmistas da nossa comunidade.

Escolinha de bateria da Mancha, a maior de São Paulo

Eu acho que o principal motivo é o respeito que temos com as pessoas que vêm. Não importa o time que a pessoa torce, religião, cor, ela vai ser tratada com respeito, aprendendo ou não. Fora que nós temos um time capacitado para ensinar, pessoas que aprenderam com a gente e hoje estão ensinando, ou seja, o fruto do nosso trabalho de escolinhas nossas passadas vêm dando resultado. Cada vez mais as pessoas de outras agremiações querem participar, de baterias universitárias por exemplo, e isso é um motivo de orgulho pra gente.

Relação com Mestre Moleza

O respeito prevalece. O cargo de mestre de bateria poderia gerar muita vaidade. Nós somos inteligentes pra entender que somos soldados da escola e o exemplo vem de cima. Assim a gente consegue fazer a bateria com a nossa cara. O pensamento nosso é sempre em cima disso. 

Bateria da Mancha no Carnaval 2011

Estamos numa crescente, sabemos das nossas qualidades e limitações. Sempre tem nota que a gente não concorda. Duas notas a gente concorda e uma não. Um jurado não entendeu uma bossa nossa, a gente voltava no contra tempo do surdo, nós sabíamos que era arriscado. Nós estávamos inovando mas sabíamos do risco. Foi uma questão de interpretação, o jurado não entendeu o que nós queríamos fazer. Outro jurado tirou ponto do tamborim alegando que não entendeu uma frase do tamborim. Mas ele simplesmente não disse qual frase. O Xula, diretor da Grande Rio, alegou que o time de surdos embolaram mas o jurado na frente dele não disse nada, nos deu nota máxima. Mas nota dada é dada e não tem como voltar mais. Vamos simplificar mais e levar a ousadia pro desfile das campeãs. Humildemente falando nossa bateria está entre as melhores, perdendo nota ainda estamos classificadas entre as melhores.
 
Relação de jurados e baterias

Às vezes as pessoas reclamam de jurado quando perdem ponto, quando estão tirando é cômodo não falar. Às vezes vira vício julgar nome de escola, então é perigoso. Às vezes é professor de jazz que julga batucada e entende pouco do assunto, ele julga estilo de bateria, batida de caixa, formação da bateria, e ele não está pra isso. Ele está pra julgar afinação e definição dos instrumentos, andamento. A tendência é que as coisas melhorem,  existe um projeto de criar uma associação de mestres de bateria, teremos mais força pra reivindicar certas situações perante os jurados. Todo mundo tá sujeito a erros, é um jogo, o que não pode é jurado ser injusto.

Ritmistas  não exclusivos da escola

Não vemos problema nenhum. O que a gente vai cobrar é comprometimento conosco. Tem pessoas que a gente sabe que são a base da nossa bateria. É mais molecada que gosta de tocar em várias baterias, quando o pessoal fica mais adulto vai criando uma identificação maior com o pavilhão. O ritmista é um guerreiro da escola, se mata, faz porque gosta e não ganha nada por isso. Mas tem ritmista que é folgado sim, toca 10 minutos e quer sair pra dar uma volta na quadra, com baqueta na mão, pra mostrar que é da bateria. Isso é até bom porque ele mostra que gosta de fazer parte. Mas se fizer isso enquanto tem ritmista suando, aí já vai ser chamado a atenção. Mas na Mancha não temos muito isso, os ritmistas da Mancha assimilaram bem a nossa linha de trabalho.

Evolução como mestre de bateria e formação musical

Fiz com o Moleza um ano de música no Souza Lima. É importante, mas nada como o dia-a-dia, a vivência na escola de samba. Não adianta apenas ser um bom músico, é preciso ter liderança, saber lidar com o ritmista, compreensão, tem que ter carisma. Conhecimento musical é importante, mas só com isso ele não vai muito longe.

Baterias de São Paulo

Todas estão num nível muito bom, mas eu gosto muito da bateria do Tucuruvi com o Adamastor, a do Zoinho, a do Sombra. Essas pra mim são as top de São Paulo. Não sei se é porque elas seguem uma linha de trabalho mais parecida com a nossa, mas eu gosto demais dessas.

Baterias do Rio de Janeiro

Por muito anos eu acho que foi a minha Ilha, ganhamos 4 estandarte de ouro. Mas hoje em dia, a Unidos da Tijuca é a melhor bateria do Janeiro, pelo conjunto. Tem a Grande Rio também, a Imperatriz, o Marcone vem fazendo um trabalho excelente.

Dica para ritmistas iniciantes

O principal erro de ritmistas iniciantes é a falta de humildade, mas nem é por maldade, é porque falta de maturidade mesmo, achar que estar tocando bem e não achar que dá pra melhorar. Outra coisa é a amor ao pavilhão, tem que gostar da sua escola. Sem identidade o ritmista não é nada. 


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Veja também:
Entrevista com Mestre Tornado (Rosas de Ouro)
Entrevista com Mestre Moleza (Mancha Verde)
Entrevista com Mestre Mi (Vila Maria)
Entrevista com Mestre Odilon (Mocidade Independente)
Entrevista com Mestre Sombra (Mocidade Alegre)